Há relatos de resultados falsos-negativos para Covid-19 em diversos tipos de testes. Como isso pode prejudicar nossa visão global da epidemia e como podemos contornar o problema?
Em 31 de dezembro, o governo chinês reportou diversos casos de pneumonia concentrados em Wuhan, na província de Hubei. É identificado o novo coronavírus.
Ao final de janeiro, a doença passou a ser um caso de saúde pública em âmbito internacional, com 82 casos fora da China divididos em 18 países. Após ganhar todos os continentes, a epidemia progrediu rapidamente em diversas nações e, a cada semana, há um aumento drástico no número de infectados, o que preocupa diversos governos e os leva a tomar medidas para controlar a taxa de infecção e facilitar o monitoramento da doença em seu território. Uma delas é o diagnóstico acurado da Covid-19. No entanto, o aumento nos resultados falsos-negativos no controle da pandemia pode ser catastrófico.
Já há relatos da subnotificação de casos de Covid-19, bem como um alerta da falsa sensação de segurança que isso pode desenvolver1-3. Já foram observadas taxas de falsos-negativos em diversos testes, incluindo os de RT-qPCR (que são mais sensíveis)4-6. Problemas na coleta e transporte de amostra podem prejudicar a estabilidade da amostra e, consequentemente, afetam a sensibilidade do teste. Desta forma, apenas técnicas ou tecnologias que permitam a detecção de sequências danificadas e de baixas concentrações podem contornar este problema.
A subnotificação de casos devido aos resultados falsos-negativos pode gerar, por exemplo, afrouxamento precoce de distanciamento social. De forma mais preocupante, emitir um resultado falso-negativo a um paciente do grupo de risco (ou a quem convive com um) pode culminar em um prognóstico pior para aquele indivíduo. Por isso, é importante que tenhamos conhecimento das limitações de cada teste, principalmente aquelas relacionadas a seu limite de detecção.
Wölfel e colaboradores observam que a carga viral pode flutuar entre os diferentes tipos de população, amostra (swab ou escarro) e tempo decorrido da infecção. À medida que a infecção evolui, cada vez menor é a carga viral recuperada, podendo ser detectado RNA do vírus em até duas semanas em amostras de swab e até três com amostras de escarro7. A soroconversão possivelmente ocorre entre o 7° e 14° dia de infecção. Esta situação permite a confirmação do Covid-19 por testes sorológicos7. Assim, conseguimos realizar a detecção do RNA nos momentos iniciais de infecção e dos anticorpos nos momentos mais tardios.
E quando estamos no meio termo? É possível que não haja mais material genético do vírus suficiente para detectá-lo por RT-qPCR e, ao mesmo tempo, por baixa concentração de anticorpos específicos para a detecção de sorologia.Há relatos de resultados falsos-negativos pela tecnologia de PCR em Tempo Real8. Publicações mais recentes demonstram que a sensibilidade dos testes de RT-qPCR flutua entre 70% a 90% e que um limite de detecção (LOD) alto pode impedir a detecção do RNA viral9,10. Sendo assim, até testes sensíveis como o RT-qPCR podem retornar resultados falsos-negativos.
A solução é ampliarmos o alcance de detecção dos métodos moleculares por mais tempo após infecção e dos testes sorológicos logo que o indivíduo passa a produzir anticorpos. E, para isso, é necessário que a sensibilidade dos dois testes seja superior aos métodos utilizados hoje.

No caso da biologia molecular, há tecnologias que permitem uma maior sensibilidade que o PCR em tempo real, como o PCR Digital em Gotas (ddPCR). Foi demonstrado que a tecnologia do ddPCR é capaz de detectar o material genético do SARS-Cov-2 mesmo em amostras com baixa carga viral. Em estudo desenvolvido em Wuhan, o ddPCR apresentou um limite de detecção de 2,1 a 1,8 cópias dos genes do vírus por reação, enquanto o qPCR apresentou um limite de 1039 a 873,2 cópias por reação. Desta forma, o ddPCR permite a detecção em amostras que poderiam ser falsas-negativas pela técnica de PCR em Tempo Real11. Com tal sensibilidade, é possível detectar o SARS-Cov-2 no ambiente, por exemplo12, algo importante para o monitoramento em hospitais e do risco para seus funcionários.
Lu e colaboradores colocam o ddPCR como uma ferramenta potencial na detecção e manejo de pacientes assintomáticos ou suspeitos. A técnica permite a detecção do material viral mesmo em estágios mais avançados da infecção, os quais não seriam detectados pelo método tradicional. Além de apresentar excelente sensibilidade também em amostras com baixa carga viral. Assim, é uma ferramenta utilizada em casos complexos, sensíveis ou sem possibilidade de margem de erro13.
Em certas situações, principalmente se tratando de grupo de risco, qualquer informação oculta pode prejudicar o manejo do paciente. Ainda mais prejudicial é diagnosticar o paciente portador de SARS-CoV-2 como negativo. Portanto, se pudermos aumentar pelo menos 1% na sensibilidade de nossos testes moleculares, mais chances teremos de adequar tratamentos. Diante disso, o aumento da sensibilidade e acurácia de um teste em mais de 40% parece uma ótima ideia14.
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Qualquer dúvida entrar em contato: marketing_brz@bio-rad.com
Referências
1. Ribeiro LC, Bernardes AT. Nota Técnica: Estimate of underreporting of COVID-19 in Brazil by Acute Respiratory. 2020.
2. LabNetwork. Resultados falsos-negativos de exames da Covid-19 podem levar a uma falsa sensação de segurança 2020 [Available from: https://www.labnetwork.com.br/noticias/resultados-falsos-negativos-de-exames-da-covid-19-podem-levar-a-uma-falsa-sensacao-de-seguranca/.
3. West CP, Montori VM, Sampathkumar P. COVID-19 Testing: The Threat of False-Negative Results. Mayo Clin Proc. 2020.
4. Yates C. Coronavirus: surprisingly big problems caused by small errors in testing2020. Available from: http://theconversation.com/coronavirus-surprisingly-big-problems-caused-by-small-errors-in-testing-136700.
5. Stein R. Study Raises Questions About False Negatives From Quick COVID-19 Test2020. Available from: https://www.npr.org/sections/health-shots/2020/04/21/838794281/study-raises-questions-about-false-negatives-from-quick-covid-19-test.
6. OSterholm MT, Olshaker M. Let’s Get Real About Coronavirus Tests: The New York Times; 2020 [updated 20200428. Available from: https://www.nytimes.com/2020/04/28/opinion/coronavirus-testing.html.
7. Wölfel R, Corman VM, Guggemos W, Seilmaier M, Zange S, Müller MA, et al. Virological assessment of hospitalized patients with COVID-2019. Nature. 2020:1-5.
8. Xiao AT, Tongji Hospital TMC, Huazhong University of Science and Technology, Tong YX, Tongji Hospital TMC, Huazhong University of Science and Technology, Zhang S, Department of Gastrointestinal Surgery Tongji Hospital TMC, Huazhong University of Science and Technology. False‐negative of RT‐PCR and prolonged nucleic acid conversion in COVID‐19: Rather than recurrence. Journal of Medical Virology. 2020;Accepted Author Manuscript.
9. Fang Y, Zhang H, Xie J, Lin M, Ying L, Pang P, et al. Sensitivity of Chest CT for COVID-19: Comparison to RT-PCR. https://doiorg/101148/radiol2020200432. 2020.
10. Biswas A. No COVID-19 Test Is 100% Right, so Their Errors and Results Are Both Important – The Wire Science2020 2020-04-21. Available from: https://science.thewire.in/the-sciences/covid-19-rt-pcr-serological-tests-false-positive-false-negative-rate-bayes-theorem/.
11. Suo T, Liu X, Feng J, Guo M, Hu W, Guo D, et al. ddPCR: a more sensitive and accurate tool for SARS-CoV-2 detection in low viral load specimens. 2020.
12. Liu Y, Ning Z, Chen Y, Guo M, Liu Y, Gali NK, et al. Aerodynamic analysis of SARS-CoV-2 in two Wuhan hospitals. Nature. 2020:1-6.
13. Lu R, Wang J, Li M, Wang Y, Dong J, Cai W. SARS-CoV-2 detection using digital PCR for COVID-19 diagnosis, treatment monitoring and criteria for discharge. 2020.
14. Dong L, Zhou J, Niu C, Wang Q, Pan Y, Sheng S, et al. Highly accurate and sensitive diagnostic detection of SARS-CoV-2 by digital PCR. 2020.
Fonte: LabNetwork