No decorrer da pandemia de Covid-19, entre as oscilações de novos picos de contaminação ao redor do mundo e períodos em que a doença estava em queda, o que se manteve constantemente sob observação das entidades de saúde foram as taxas de imunização, principalmente em relação ao esquema vacinal completo, e a descoberta de novas variantes.
Entre as variantes mais recentes do vírus SARS-CoV-2, a Ômicron foi detectada na África do Sul, e apontada como uma variante de preocupação (VOC – variant of concern, em inglês) pela Organização Mundial da Saúde em novembro de 2021.
Essa variante possui mais de 30 mutações na proteína Spike, que está associada à capacidade do vírus de infectar as células humanas e é um dos principais alvos dos anticorpos neutralizantes. Algumas dessas mutações estão associadas ao potencial de escape imune humoral e maior transmissibilidade. Com isso, em janeiro de 2022, ela já era responsável por mais de 99% das infecções em São Paulo, segundo dados do Instituto Butantan1.
Vários estudos têm sugerido que anticorpos contra SARS-CoV-2 diminuem gradativamente depois da segunda dose da vacina, e por isso, a introdução de uma dose de reforço pode se mostrar benéfica.
Diante desse cenário, um estudo realizado por Seki et al2. e publicado em junho de 2022, avaliou mais de 270 profissionais da saúde no Japão em relação a segurança e imunogenicidade da vacinação a longo prazo, considerando um esquema vacinal com três doses da vacina Pfizer/BioNtech, cuja tecnologia é de RNA mensageiro (mRNA).
Por meio de imunoensaios de Bio-Plex, que possuem os princípios básicos da técnica de ELISA mas com capacidade de multiplexagem, os pesquisadores puderam realizar análise de múltiplos analitos simultaneamente, com alta precisão e especificidade, a partir de uma única amostra.
Esse estudo observou que os níveis de anticorpo anti-spike e sua capacidade de neutralização diminuíram gradualmente numa janela de 6-9 meses depois da segunda dose da vacina.
A vacinação de reforço começou a ser aplicada no Japão exclusivamente em trabalhadores da saúde em novembro de 2021, e as análises de anticorpos de neutralização do SARS-CoV-2 em amostras de soro, realizadas pelo kit Bio-Plex Pro Human SARS-CoV-2 Variant Neutralization Antibody, 11-plex, permitiram notar que este esquema vacinal, de três doses, aumenta os níveis de anticorpos neutralizantes contra as subvariantes da Ômicron.
O trabalho aponta ainda que a dose adicional da vacina também se mostrou eficiente ao aumentar a amplitude da imunidade humoral e reação cruzada contra a linhagem ancestral WK-521 de SARS-CoV-2, assim como as variantes emergentes Delta e Ômicron, incluindo BA.1, BA.1.1, e BA.2.
A produção anormal e prolongada de citocinas, proteínas que regulam a resposta imunológica, também foi monitorada durante o estudo. Seus níveis em amostras de soro no período de 1-2 semanas depois da segunda e terceira dose de vacinas foram analisados por meio do kit Bio-Plex Pro Human Cytokine Screening Panel 48-Plex e foi possível identificar que as assinaturas de citocinas após as três vacinações de reforço permaneceram inalteradas. Esses dados, associados a notificação de eventos adversos, sugerem que esse modelo de esquema vacinal é eficiente e seguro.
Compreender a resposta imune e suas habilidades neutralizantes em uma escala micro, cujo foco está voltado para o paciente e em uma escala macro, de proporções epidemiológicas globais, pode não somente ajudar a prevenir surtos, mas também mitigar os efeitos de futuras pandemias.
Para percorrer a linha cronológica do surgimento das novas variantes e como seus mecanismos de virulência foram sendo alterados para permitir a infecção do vírus mesmo em pessoas imunizadas, assim como ler detalhes dos testes, metodologias e análises estatísticas adotadas no estudo, você pode acessar o trabalho na íntegra aqui.
Sobre a tecnologia de Bio-Plex
Os imunoensaios de Bio-Plex utilizam a tecnologia xMAP, licenciada pela Luminex, para permitir multiplexagem de até 100 diferentes ensaios a partir de uma única amostra.
Esta técnica envolve 100 assinaturas colorimétricas distintas, criadas pelo uso de dois corantes fluorescentes em diferentes proporções. As beads são então conjugadas com reagentes específicos do ensaio que será realizado, reagentes que podem incluir antígenos, anticorpos, oligonucleotídeos, substratos de enzimas ou receptores.
A tecnologia permite imunoensaios multiplex nos quais um anticorpo para um analito específico é acoplado a um conjunto de beads com a mesma cor, e o anticorpo secundário deste analito é conjugado à um repórter fluorescente. O uso de esferas com assinaturas colorimétricas diferentes permite a detecção múltipla e simultânea de muitos analitos na mesma amostra.
Um citômetro de fluxo é usado para classificar os diferentes ensaios através da variação colorimétrica das beads em um canal, e determinar a concentração do analito medindo a fluorescência do repórter em outro canal.
Você pode explorar mais detalhes dessa tecnologia em nosso site e ler como ela tem sido aplicada em estudos epidemiológicos aqui.
Referências:
1. Seis fatos sobre a ômicron, a variante mais transmissível da Covid-19. Disponível em: https://butantan.gov.br/noticias/seis-fatos-sobre-a-omicron-a-variante-mais-transmissivel-da-covid-19
2. YOHEI SEKI, Yohei et al. Safety and immunogenicity of the Pfizer/BioNTech SARS-CoV-2 mRNA third booster vaccine dose against the BA.1 and BA.2 Omicron variants.
DOI https://doi.org/10.1016/j.medj.2022.04.013 . Acesso em: 27 nov. 2022.